um país sem fim, o mar, a terra, o meu fado...
País, orgulho, língua... que sentimento estranho este que nós faz ter orgulho e defender o país onde nascemos? aquele que sentimos como nosso? não é um pouco egoísta achar que um local, com os seus costumes, tradições e pessoas, nos pertence? não seremos nós que lhe pertencemos a ele? Por muito que nos afastemos para locais e costumes que nos fascinam, gostamos sempre mais de regressar do que de partir, pois, quer queiramos quer não, parece que a nossa "alma" está ligada a esse local em particular e que só regressando repomos energias para partir novamente.
Não são os Figos, os Cristianos Ronaldos e os Decos (curioso que quem clama por este último, não estivesse ele num campo relvado, são os mesmos indivíduos que consideram mulheres fáceis as suas irmãs, como o conceito de xenofobia se altera de acordo com os interesses...) que me fazem sentir esse gostinho, tímido orgulho, no meu país. Mas sim aqueles que, mesmo quando tudo parece perdido, têm a alma e a força para lutar e seguir em frente, aqueles que nos representam nos campeonatos de Boccia, nos desportos adaptados, que apertavam o botão da camisa e os cordões dos sapatos naquele famoso anúncio da DGV. Porque essa alma que os faz lutar é a mesma que nos permite ter saudade, saudade daquela doce e que sabe tão bem ou daquela amarga que aperta o peito, e transmiti-la cantando como só a voz do fado sabe dizer e sentir...
Fado e saudade são, na verdade, palavras lindas que se sentem vibrar no peito, juntinho ao coração, quer sejamos o português do Zé Povinho ou o do Chapitô, tão diferentes que parecem de mundos distantes, mas ambos com o mesmo palpitante sentimento.
Ainda no outro dia fui atendida num café espanhol por um rapaz brasileiro e, ao vir embora, disse "Obrigada!", uma simples palavra que dizemos demasiadas vezes mas poucas sentidas. E ele respondeu "Há muito tempo que não ouvia essa palavra, é tão boa! Gracias não tem qualquer significado." E é mesmo verdade, quando não é dito na nossa lingua parece não ter qualquer sentimento (e eu digo isto mesmo tendo a "veia" espanhola bastante acesa, Mari y Maria os quiero mucho, el master muy mal organizado, pero "echar de menos" no es lo mismo que "ter saudade", ni "gracias" es "obrigado")
Por isso o meu coração português late cada vez mais cantando um país sem fim, o mar, a terra, o meu fado...
E aqui deixo, como não podia deixar de ser, Mariza... para ouvir com a alma, deixar-se inundar e sentir bem cá dentro...
Sem esquecer que...
Se ser fadista é ser lua
É perder o sol de vista
Ser estátua que se insinua
Então eu não sou fadista.
Se ser fadista é ser triste
É ser lágrima prevista
Se por mágoa o fado existe
Então eu não sou fadista.
Se ser fadista é, no fundo,
Uma palavra trocista
Roçando as bocas do mundo
Então eu não sou fadista.
Mas se é partir à conquista
De tanto verso ignorado
Então eu não sou fadista
Eu sou mesmo o próprio fado!